Georges Fontenis : percurso de um aventureiro do movimento libertário
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Tradução : Antony Devalle
Revisão : Plínio A. Coêlho

Article mis en ligne le 11 décembre 2023

par Eric Vilain

Houve um personagem tão sulfúrico quanto Georges Fontenis na história do movimento libertário francês no século XX ? Aquele que sente prazer em se apresentar como “Satã”, “o Príncipe das trevas”, aquele que, há algumas semanas apenas, numa visita anônima à livraria do Monde Libertaire, estendia um cheque ao responsável de plantão da loja dizendo-lhe : “a mão do diabo” ! Aquele, também, que verá seu nome declinado em numerosos artigos e obras históricas como uma espécie de ideologia, o “fontenismo”, e como adjetivo : “fontenista”. Evocar Georges Fontenis não é fácil, uma importante literatura tão diversa quanto apaixonada existe sobre o tema. Diversos textos autobiográficos e teses de universitários, assim como de militantes interessados pela história do movimento, abordam o personagem e frequentemente a argumentação engajada contribui para forjar um mito a respeito dele. Maurice Joyeux redigirá sobre isso, no décimo oitavo número da revista anarquista La Rue, um longo artigo intitulado justamente “O caso Fontenis”.

Na introdução, ele escreve : “Há uns trinta anos, existe no nosso meio um mito. Esse mito é o do caso Fontenis.”. Mito que repousa sobre um único homem cuja presença entre nós foi relativamente curta, seis ou oito anos no máximo, e que só exerceu sua autoridade durante a metade desse tempo. Para os militantes que o sucederam, Fontenis foi o “mau”, o “lobisomem” da fábula, o “horroroso” da tragédia, o “Anti-Cristo” que aterrorizou não apenas uma geração mas também aquelas que seguiram, que não o conheceram mas que o evocam cada vez que uma tal querela ideológica sacode o nosso movimento. O personagem não merecia tal “honra”, nem tal constância nesse papel “clássico” que todos os grupos humanos inventam para se livrar do peso dos seus “pecados” e jogar sobre “Satã” o peso dos seus erros. Considero ridículo esse recurso ao “caso Fontenis” por parte de um certo número de nossos camaradas para explicar ou justificar desacordos. O recurso ao “mau” não é nada mais do que o recurso ao irracional, e a filosofia nos ensinou que somente a literatura lhe fornece o rosto do Fausto de Goethe enquanto ele está em nós e que é aí que precisamos desmascará-lo, mais do que lhe atribuir ao mesmo tempo uma face sedutora e angustiante. E se para exorcizar o diabo basta, dizem os bons padres, falar a respeito, então falemos do caso Fontenis !